A disputa entre o Halloween e o Pão-por-Deus começa a repetir-se todos os anos: teoricamente.
É certo e sabido que, nesta altura, com os crisântemos a florir, as folhas a cair das árvores e os dias tão curtos que facilmente se confunde as seis da tarde com as seis da manhã, começa a velha questão:
Se temos o nosso “Pão-por-Deus” por que trazemos o Halloween?
Não querendo, evidentemente, escolher um dos lados da disputa (às vezes tão acirrada que parece estar em causa a própria independência portuguesa) o que é certo é que são tradições diferentes, ainda que assentem em alguns denominadores comuns:
- crianças (sobretudo);
- pedidos (ou coação, vá);
- doces.
Mas o que é afinal o Halloween e o Pão-por-Deus?
O dia das bruxas (ou Halloween em inglês) traduz-se em várias celebrações que ocorrem nalguns países, no dia 31 de outubro, véspera da festa cristã do dia de todos os santos. Entre as várias atividades do “festejo” estão:
- ir a festas de fantasia
- esculpir abóboras
- ver filmes de terror
- visitar casas assombradas (que ninguém acredita em bruxas, mas que as há…)
- e, o mais conhecido, ir de porta em porta pedindo doces.
(Na verdade, poder-se-á dizer que é coagir a entrega de doces uma vez que aqueles que não o fizerem arriscam ser alvo de diversas travessuras)
Em suma, uma alegre festa de carnaval e acúçar, bastante inócua e divertida.
Então por que motivo é que todos os anos os ânimos ficam acirrados em algumas partes do país?
Porque se o Halloween ganha cada vez mais adeptos, o nosso “Pão-por-Deus” perde a olhos vistos, sendo já quase uma tradição longínqua que muita gente não conhece.
O “Pão-por-Deus” também tem crianças que saem à rua a pedir coisas. E também há “ameaças”.
No entanto, acontece no dia 1 de Novembro e a tradição passa pelas crianças se reunirem cedinho (e não de noite, mascaradas e com fatos de filmes da moda), com o seu saco de pano ao ombro, passando pelas casas e pedindo pão-por-Deus enquanto recitam versos:
Ó tia, dá Pão-por-Deus?
Se o não tem Dê-lho Deus!.
Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus.
Em troca tipicamente não recebem doces industrializados mas bolos caseiros, frutos secos, romãs, e outros produtos.
já Quando se recusa o Pão-por-Deus, recebe-se em troca o rogar de uma praga em verso:
Senão leva com uma caneca no focinho.
O dia de Pão-por-Deus era o dia em que se oferecia pão, bolos, vinho e outros alimentos aos mortos, de forma a pedir pela sua alma sendo essa a origem do ritual cristão.
A disputa entre Halloween e o Pão-por-Deus é acirrada.
Há gente que defende que não sendo português, não faz sentido mascararmos as nossas crianças e pedincharmos doces aos vizinhos. Também há quem defenda que não faz sentido levarmos as crianças a pedinchar pão e bolos e que as diferenças não são assim tantas.
Seja como for, estas são tradições baseadas em palavras:
- Pão-por-Deus?
- Doçura ou travessura?
E na weScribe privilegiamos palavras!
As ditas, gritadas, argumentadas e, sobretudo, as transcritas. Por isso:
“Pão-por-Deus”… ou “Doçura ou Travessura?”
O que vai dizer este ano? E o que pensa acerca do assunto?