Transcrever um ficheiro de áudio traduz-se na transposição para escrita daquilo que se ouve. E apesar de parecer algo simples a verdade é que abarca uma série de questões que é preciso ter atenção, sobretudo erros ortográficos.
Um dos grandes problemas da transcrição é que não basta saber ouvir: é necessário saber escrever.
E se a grande maioria das pessoas que se candidatam a transcrever têm bons conhecimentos de ortografia a verdade é que, às vezes, seja por distração, por necessidade de despachar o trabalho, por falta de revisão ou puro desconhecimento, se cometem lapsos ou erros ortográficos que, não sendo corrigidos, causam dores a quem lê.
Os mais comuns resultam de paragramas e a língua portuguesa “ajuda” a que isso aconteça.
Mas o que são paragramas?
Simples: são erros ortográficos que resultam da troca de uma letra por outra.
E se já é mau lermos palavras mal escritas em decorrência destes erros em cenários comuns do dia a dia, torna-se imensamente pior quando em causa está um trabalho que exige total rigor como a transcrição (seja entre o que é dito e escrito, seja no que é escrito).
Vejamos alguns exemplos:
1. Conselho e concelho
Esta confusão/lapso (no fundo paragrama quando é erro) ocorre mais vezes do que era suposto e faz-nos sempre levar as mãos à cabeça. Sobretudo quando, por exemplo, em causa está uma transcrição para uma Câmara Municipal.
Já imaginaram o que é um ata resultante de uma transcrição que tem constantemente a palavra conselho para se dirigir à divisão administrativa do território daquele município?
Relembremos as diferenças:
- Conselho com S refere-se a um aviso, a uma sugestão de algo a fazer ou seguir ou a um grupo de pessoas com funções deliberativas como o conselho de ministros.
- Já concelho com C diz respeito a uma divisão administrativa do território, como um município.
Resumindo: não se dão concelhos nem conselhos. 😀 Mas podem pedir-se conselhos acerca do concelho onde decidir residir.
Exemplos muito práticos:
- Achas que telefone ao meu pai a pedir um conselho acerca do que fazer nesta situação?
- Gosto muito de viver no meu concelho: tem boas infraestruturas e as pessoas são simpáticas.
2. Troca do i e do e em determinadas palavras
Uma vez que em muitas situações o e se lê como i, há diversas palavras que acabam por ser mal escritas o que, sinceramente, não ajuda nada a um bom trabalho.
Exemplo: Previlégio quando o correto é privilégio.
Vamos lá ver: se usar o word como ferramenta de escrita raramente cometerá este erro (se a revisão estiver configurada para português e tiver esta opção ativa, claro está). Isto porque o word depara-se com o erro e avisa-o com aquela risquinha irritante a vermelho.
No entanto, se usar outra ferramenta é provável que nem se dê conta do erro. E isto porque muita gente diz mal a palavra, acabando por escrever da mesma da forma como diz e ouve.
Lembre-se: é um privilégio aprender e usar o que aprende de forma correta: e privilégio escreve-se com i.
3. Há erros que resultam da troca das letras s por z ou vice-versa
Exemplos práticos:
- Escrever
visinhoquando o correto será vizinho. - Ou
atrazem vez de atrás (aqui o erro é duplo porque além da troca do z ainda falta o acento. Ou assento?*). - Ou
mezaem vez de mesa. Ouvizitaem vez de visita.
4. Assento e acento
Não confundamos:
- Assento com dois s indica um banco, uma cadeira. É aquele objeto que serve para colocarmos o nosso rabo quando queremos, precisamos de descansar (ou trabalhar, também).
- Já acento com c refere-se a um sinal gráfico usado nas palavras para indicar a sílaba tónica: acento agudo, circunflexo ou grave (um dia destes falaremos sobre a importância dos acentos na transcrição).
Portanto, como vê, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
5. Ah, e já que falamos do “nada a ver”…
Por favor nunca escreva “nada haver” sem ter a certeza de que é mesmo isso que quer escrever.
- “Nada a ver” é usado quando queremos dizer que algo não está relacionado, que não diz respeito a certa coisa.
- Já “nada haver” significa que não tem nada a receber, nada a reaver: por exemplo: “quando fui despedida tudo me foi pago pelo que não tenho nada haver”.
Podemos jurar aqui: se há erro que nos faz pensar duas vezes em dispensar um transcritor é este.
Lembre-se: evite dar erros ortográficos. Em caso de dúvida consulte um dicionário. Se quiser teremos todo o gosto em sugerir alguns dos melhores e totalmente gratuitos. Um bom exemplo é o priberam.
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