Já o dissemos quantas vezes? Na wescribe privilegiamos palavras. Todas elas (mesmo as menos bonitas) e por isso, no Dia de Todos-os-Santos, decidimos inaugurar uma nova rúbrica:
Poema do Mês
(Não confundir com transcritor do mês).
Assim todos os meses – ou pelos menos todos aqueles em que for possível – iremos selecionar um poema aqui no blog para presentear aqueles que nos seguem e que gostam tanto ou mais de palavras do que nós.
Começamos em novembro (porque nem tudo pode começar em janeiro), logo no dia 1, com um poema muito especial nesta data.
Chama-se DIA DE TODOS-OS-SANTOS e é de JOSÉ BLANC DE PORTUGAL*.
Esperemos que gostem.
DIA DE TODOS-OS-SANTOS
Supõe que morri
(Aos mortos se escreve também algumas vezes).
Não sou de cá.
O que me dizem estranho
E ouço o que não há.
Assim, talvez, como estrangeiro,
Encontres palavras que me interessem,
Saibas dar-me o que me tarda…
coisas perdidas que procuro
e talvez se possam dar
aos que partiram e esqueceram
e, por isso,
se lhes oferece o resto de tudo
sem mesmo se saber
que alguma coisa é dada.
Supõe que morri e diz
todas as verdades que se dão aos mortos
o que se confessa a quem não ouve
e espera resposta de ninguém …
Dizem que os deuses morreram:
Sou da raça deles
à espera de Deus.
*Algumas notas sobre o Autor
- José Bernardino Blanc de Portugal nasceu em Lisboa a 8 de março de 1914 e faleceu em 13 de maio de 2000.
- Foi poeta, professor, ensaísta, crítico musical e meteorologista português.
- Tiago Bettencourt musicou um o poema seu – “A Pedra” – no álbum Tiago na Toca e os Poetas que pode ouvir aqui: