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Quem fala é o Transcritor | Leitura recomendada: Viagens de Olga Tokarczuk

Na wescribe privilegiamos palavras e transcritores. As palavras porque são a base do nosso trabalho; os transcritores porque pegam nas palavras escutadas, e as colocam no papel.

Na wescribe somos, portanto, o conjunto de todos os profissionais que amam palavras e assumem uma paixão pelo desenho das mesmas, depois de ouvidas nas mais diversas pronúncias e sotaques.

Foi (também) por isso que neste verão e nestas férias (com as contingências conhecidas deste 2020) quisemos saber ainda mais dos nossos transcritores e das palavras que os constroem: o que recomendam como leitura para estes dias longos, quentes, com cheiro a mar e férias?

A Viviane Almeida aceitou o desafio. Vamos ler?

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Viagens de Olga Tokarczuk
(Fonte: wook.pt)

«Prêmio Nobel de Literatura, Olga Tokarczuk evidentemente arrisca e desconcerta-nos em Viagens. Não há compromissos com cronologias, hierarquização entre capítulos. Não há índice para direcionar a leitura.

Em oposição, propõe-se o folhear das páginas, curioso, cativando os leitores pelos títulos – ou por alguma palavra em particular. O que está em causa neste livro é a liberdade entre fragmentos, sem a necessidade de costurá-los para que, juntos, formem um tecido – um objeto concreto e visível.

Para a autora, o mundo só poderá ser visto assim – fragmentário. Outro mundo não existe.  

Ao abrir o livro, na primeira página, o leitor é confrontado com um título que é também constatação e simplicidade: Existo e ao existir o fio da narrativa vai sendo desenrolado em fragmentos de textos de tamanhos diversos, imagens e mapas. Em “Estou” (p. 336), a autora explica que o significado da viagem está em ir, não no destino. “Onde estou – tanto faz. Estou”.

 

Poderá, para alguns, parecer intrigante, mas é sem dúvida um exercício de liberdade literária e não só. Viajar será uma forma de buscar nossas próprias raízes. Embora, no tempo atual da imposição exógena da restrição da mobilidade, pensar sobre viagens poderá parecer, num primeiro momento, extemporâneo.

Olga Tokarczuk mostra-nos um caminho ao afirmar que “o mundo se encontra no interior de nós próprios, nos sulcos do cérebro e na glândula pineal “(p. 52).

Acutilante, também a perceção da autora sobre os guias turísticos. Massificada pelo fenómeno da globalização, a viagem diluiu-se no conceito cada vez mais imperativo do turismo. Para a autora os guias turísticos “fragilizaram os lugares, alfinetando os seus nomes nos mapas, dando-lhes rótulos e apagando-lhes os contornos” (p. 64).

 

No seu título original, Viagens é Bieguni – “uma seita de antigos crentes ortodoxos que tratavam o movimento de maneira sagrada” (p. 198). Olga Tokarczuk não escolheu de forma aleatória esta palavra para nomear o seu livro. Do princípio ao fim, os leitores são convidados a atravessar fronteiras em busca da liberdade. Exercitando o desapego e acolhendo o desassossego.

Viagens de Olga Tokarczuk não é um livro sobre o óbvio. Sua competência reside em estimular a observação do mundo de um inusitado ponto de vista.»

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Agradecemos à Viviane pela magnífica recomendação e lembramos que se quiser fazer parte da família wescribe, enquanto transcritor, só tem de nos contactar por e-mail para iniciar o processo de candidatura.

 

Boas férias, bom verão e boas leituras.

 

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